TURISMO

Tecnologias de informação e turismo sustentável


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FERNANDO BRITO E ABREU

Professor Catedrático Iscte Tecnologias e Arquitetura

Investigador ISTAR-Iscte


Este é um projeto europeu que envolve três centros de investigação (ISTAR-Iscte, BRU-Iscte, IT-Instituto de Telecomunicações) e que tem por objetivo produzir “caixas de ferramentas” baseadas nas TI, para ajudar as PME do turismo.



Quais são os objetivos que este projeto quer alcançar?

O principal objetivo é a transição para modelos operacionais mais resilientes, circulares e sustentáveis no turismo, integrando soluções digitais
inovadoras para melhorar a qualidade da experiência turística, descarbonizar o setor e contribuir para um crescimento económico mais inclusivo – não só para as PME europeias do turismo, mas também para os residentes dos destinos. Mais de metade do orçamento do RESETTING (resetting.eu), que ultrapassa o milhão de euros, será atribuído a 60 PME na área do turismo, 12 das quais em Portugal.
A equipa RESETTING do Iscte é multidisciplinar, com investigadores das áreas da computação, das telecomunicações, do turismo e do marketing. É este cruzamento de valências diversificadas, facilitado pelo ecossistema do Iscte, que nos permitiu definir objetivos ambiciosos.

 

De que forma o Iscte está envolvido e empenhado neste projeto?

A participação do Iscte no RESETTING é coordenada pelo ISTAR-Iscte, mas nele participam também investigadores da BRU-Iscte e do IT. O Iscte tem o maior orçamento dentro do consórcio e a responsabilidade de dois dos seis workpackages do RESETTING, um designado de “Smart Tourism Tools(STT) e o outro de “Data Analytics for Tourism”. O primeiro, que tem como objetivo facilitar a criação de ferramentas para o chamado “Turismo Inteligente”, é o que envolve mais recursos em todo o projeto, com cerca de 12 investigadores e staff de apoio.


Que ferramentas são essas e como podem ajudar ao turismo?

Estamos a desenvolver três toolboxes (caixas de ferramentas), com software aberto (open source), hardware acessível, instruções detalhadas, filmes ilustrativos e exemplos de aplicação, que permitam a construção, por PME europeias, de soluções para o turismo inteligente em contextos diversificados. Uma toolbox é relativa à deteção, visualização, análise retrospetiva e previsão do apinhamento turístico, um problema bem conhecido em Lisboa que ocorre quando a capacidade de carga dos destinos é excedida, com vista à implementação de estratégias de mitigação, como o doseamento da visitação, ou a sugestão de percursos e horários menos problemáticos. Desenvolvemos no Iscte um detetor que, com base nas tecnologias do Wi-Fi e Bluetooth usadas pelos telemóveis, permite estimar o número de pessoas nas suas imediações. Protótipos desses detetores têm vindo a ser testados em vários locais do nosso campus e brevemente iremos instalá‑los em pontos críticos do parque do emblemático Palácio da Pena, graças a uma parceria com a Parques de Sintra.
Outra toolbox visa a utilização da realidade aumentada (RA) e da realidade virtual (RV) em locais de visitação históricos, para recriar uma experiência de visitação mais próxima do que seria originalmente, quando o património foi depauperado no decurso do tempo. O protótipo em construção será validado no Palácio de Monserrate, também em colaboração com a Parques de Sintra.
O objetivo aqui será o de recriar, com recurso a RA/RV, uma visita durante a fase de opulência da vida nesse palácio, na transição do século XIX para o século XX, quando aí residia a família inglesa Cook. O edifício do palácio foi restaurado recentemente, mas o seu recheio perdeu‑se quase integralmente no tempo. A recriação será conseguida através da sobreposição de fotografias bidimensionais da época com as imagens tridimensionais captadas atualmente no local. Serão também criadas réplicas virtuais tridimensionais de vários objetos reais que aparecem nas fotografias antigas.


A equipa é multidisciplinar, com investigadores das áreas da computação, das telecomunicações, do turismo e do marketing. É este cruzamento de valências diversificadas, facilitado pelo ecossistema do Iscte, que nos permitiu definir objetivos ambiciosos neste projeto.


 

E a terceira toolbox?

A última toolbox irá combinar veículos aéreos não tripulados, vulgarmente conhecidos como drones, com a comunicação móvel 5G que permite a transmissão de vídeo de alta‑definição. O objetivo é permitir realizar visitas a locais inacessíveis, seja devido a limitações físicas dos próprios visitantes (promovendo um turismo mais inclusivo) ou à própria inacessibilidade do local, ou ainda para promover a sustentabilidade ambiental de destinos protegidos. Pretende‑se que os visitantes possam selecionar e controlar remotamente mais do que uma câmara existente no drone e interagir com o seu piloto e com os outros participantes na visita, resultando daí uma experiência mais realista. Os testes de validação irão decorrer em colaboração com uma empresa de turismo científico no oceano.

 

As instituições que participam neste consórcio de investigação são muito diversas?

Há instituições de investigação e transferência de tecnologia como o Iscte e a Eurecat (Centre Tecnològic de Catalunya), uma associação de turismo (Federació Empresarial d’Hostaleria I Turisme de la Província de Tarragona), uma associação de empresas tecnológicas (Clúster TIC Catalunya Sud), uma agência governamental de turismo grega (Heraklion Development Agency), a câmara municipal de San Benedetto del Tronto em Itália, uma agência turística albanesa (Albanian Trip) e ainda uma incubadora de empresas, o nosso conhecido AUDAX. Esta diversidade traduziu‑se numa variedade de opiniões muito estimulante, determinante para o sucesso da candidatura no programa COSME da Comissão Europeia.


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Este projeto visa a transição para um modelo de turismo mais resiliente, circular e sustentável, numa linha de investigação que o Iscte já explorava.

A ideia nasceu há uns anos com outro projeto em colaboração com uma ONG do Ambiente, o GEOTA, a Universidade Nova de Lisboa e a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Chamava‑se SUSTENTURIS, era focado na sustentabilidade do turismo e teve apoio do Fundo Ambiental. A ideia era A equipa é multidisciplinar, com investigadores das áreas da computação, das telecomunicações, do turismo e do marketing. É este cruzamento de valências diversificadas, facilitado pelo ecossistema do Iscte, que nos permitiu definir objetivos ambiciosos neste projeto. a criação de um marketplace business‑to‑business (B2B), para fazer a ligação entre PME com oferta de produtos e experiências sustentáveis (como caminhadas, visitas a salinas, ao artesanato, observação de aves e muitas outras) e os grandes operadores do turismo. A inclusão desses produtos e experiências sustentáveis nos pacotes turísticos permitiria a redução da pegada ecológica, em particular dos turistas de longo curso.
Entrámos em pandemia, o turismo parou e o planeta respirou fundo nesses anos, baixando os níveis de poluição a nível global. Entretanto, vários orientandos meus terminaram as teses de mestrado em tópicos relacionados com a utilização de soluções tecnológicas para a promoção do turismo sustentável. Convidei para arguente um professor de uma universidade na Catalunha com trabalho muito relevante na área. Ele apreciou de tal forma o trabalho que estávamos a fazer no Iscte que passado pouco tempo nos convidou para integrar o consórcio que concebeu a proposta do projeto europeu RESETTING.


Observatório Europeu de Ferramentas para o Turismo Inteligente


Nos últimos anos, em particular devido à necessidade de repensar formas mais resilientes (devido à pandemia) e mais sustentáveis (devido à emergência climática) para o turismo, têm sido propostas bastantes soluções e ferramentas para o turismo inteligente, as já referidas Smart Tourism Tools (STT). Contudo, não são facilmente adotadas por PME europeias do turismo, não só devido aos desafios habituais da transição digital (nomeadamente a exigência de competências digitais adequadas) mas, muitas vezes, como é reconhecido pela Comissão Europeia, pelo simples desconhecimento de que essas soluções e ferramentas existem e podem trazer valor para o negócio das PME.

O Iscte tem a tradição de criar e manter observatórios em várias áreas das Ciências Sociais. No âmbito do RESETTING, o Iscte irá criar o seu primeiro observatório relacionado com as tecnologias da informação, o European Observatory for Smart Tourism Tools. Será baseado numa plataforma para feiras virtuais na nuvem, em que empresas europeias desenvolvendo ou utilizando STT poderão ter o seu stand, de forma gratuita, aberta e permanente, com o patrocínio da Comissão Europeia. Na feira virtual, essas STT serão organizadas segundo uma taxonomia que desenvolvemos no Iscte e que foi validada recentemente por peritos com projeção mundial na área.


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