Esta investigação contribui para o conhecimento sociológico sobre o desenvolvimento de carreiras nas artes visuais, com foco no impacto do género, um aspeto menos explorado na disciplina. Analisa-se a composição de género no campo artístico português e examina-se de que modo o género estrutura as relações de poder e a construção do valor artístico, afetando as trajetórias profissionais. A literatura demonstra que, embora as mulheres representem a maioria entre as/os diplomadas/os em Artes, enfrentam dificuldades acrescidas, ocupando posições periféricas no campo. A metodologia adotada combina abordagens quantitativas e qualitativas. Foram analisados dados sobre a presença feminina em diversas instâncias do campo artístico, bem como conduzidas entrevistas a 43 mulheres artistas, permitindo mapear as suas trajetórias e perceções sobre a repercussão do género na condição profissional. Os dados quantitativos evidenciam uma subrepresentação feminina, raramente ultrapassando a proporção de um terço. Os testemunhos revelam um campo artístico precarizado, onde a visibilidade e a sustentabilidade das carreiras dependem da abrangência das redes de contactos e da acumulação de capitais. Emergiram três perfis de trajetórias profissionais, refletindo diferentes posições e mobilidades – das margens ao centro. A maioria das artistas identifica a dominância masculina em posições de poder, a desvalorização simbólica e económica da produção artística feminina e expectativas diferenciadas quanto à sua continuidade profissional como manifestações da desigualdade de género. Apesar de sinais de mudança nas novas gerações, conclui-se que o género continua a impactar as carreiras artísticas e que o campo mantém dinâmicas que perpetuam assimetrias, exigindo estratégias que promovam maior igualdade.

This research contributes to sociological knowledge on career development in the visual arts, focusing on the impact of gender—an aspect less explored in the discipline. It examines the gender composition of the Portuguese artistic field and analyses how gender structures power relations and the construction of artistic value, shaping professional trajectories. The literature indicates that although women constitute the majority of arts graduates, they face additional challenges, often occupying peripheral positions within the field. The adopted methodology combines quantitative and qualitative approaches. Data on female presence in various artistic spheres were analysed, and interviews were conducted with 43 women artists, mapping their trajectories and perceptions of gender’s impact on professional status. Quantitative data reveal female underrepresentation, rarely exceeding the one-third proportion. The testimonies depict a precarious artistic field, where career visibility and sustainability rely on the breadth of contact networks and the accumulation of capitals. Three professional trajectory profiles emerged, reflecting different positions and mobilities—from the margins to the centre. Most artists identify male dominance in positions of power, the symbolic and economic undervaluation of women’s artistic production, and differentiated expectations regarding career continuity as manifestations of gender inequality. Despite signs of change in younger generations, the findings indicate that gender continues to shape artistic careers and that the field of arts sustains dynamics perpetuating asymmetries, necessitating strategies to promote greater equality.