Título
Arquitectura ou revolução: estudos de urbanismo em Peniche: a obra do arquiteto Paulino Montez
Autor
Gregório, Sofia Santos
Resumo
pt
O presente trabalho revela a oportunidade de uma análise detalhada do desenho urbano proposto nos
planos da autoria do Arquiteto P. Montez para Peniche. Justificou este trabalho a pertinência de colmatar a ausência
de um estudo detalhado dos planos do Arquiteto, até à data, quer pela oportunidade da aplicação de uma análise
morfológica para a sua melhor compreensão.
A investigação fez uso de fontes teóricas e projectuais, cuja complementariedade confirma a sua
oportunidade para um necessário cruzamento de dados que permita melhor compreender o pensamento mas
também as opções de desenho urbano experimentadas pelo Arquitecto Montez, conforme se verificou neste
trabalho, no capítulo 2 e 3.
O presente trabalho pretende também responder às perguntas lançadas na Introdução, respondidas em
seguida:
O Arquiteto P. Montez forma-se em 1929, pela Escola de Belas-Artes de Lisboa. É em 1948 que se torna
professor de Urbanologia da referida escola, sendo posteriormente, seu diretor entre 1949 e 1967.Entre outros
cargos relacionados com o estado, destaca-se o de Vogal, do Gabinete do Plano de Urbanização da Costa do Sol,
onde trabalha com Donat-Alfred Agache, um urbanista francês.
O percurso profissional do Arquiteto P. Montez, na sua vertente urbanística, é marcado, essencialmente,
pela legislação que em 1934 criara os “Planos Gerais de Urbanização”. Esta, obrigava a que fosse da responsabilidade
das Câmaras Municipais a elaboração de planos de urbanização. É neste sentido, que o Arquiteto é contatado pela
Câmara Municipal das Caldas da Rainha, assim como a de Peniche, para elaborar os planos para as suas sedes de
concelho, assim como para algumas praias pertencentes a estas.
Da análise da obra teórica referente à temática do urbanismo, da autoria do Arquiteto P. Montez, verificase
que orientaram o pensamento deste, os urbanistas estrangeiros Camillo Sitte e Le Corbusier, e a nível nacional,
Raul Lino. O Arquiteto, defende a utilização da linha recta no traçado urbano, no entanto, aponta a necessidade
de esta se poder adaptar ao terreno acentuado, transformando-se em linha curva, revelando um caráter artístico
defendido pelo Arquiteto.
Na sua obra teórica, o Arquiteto P. Montez apresenta ainda distintos conceitos de planos. Distingue estes
entre: “plano regional”, “plano de extensão”, “plano de regularização” e “plano de embelezamento”. No entanto,
verifica-se que, nas obras teóricas referentes a planos realizados por este, o Arquiteto adapta este vocabulário,
surgindo assim o “plano da rede de circulação”, o “plano das zonas e do equipamento”, e ainda, o “plano geral”.A análise de desenho urbano realizada, para os aglomerados urbanos que não pertençam a Peniche, revela
o recurso de princípios urbanísticos que nem sempre são identificados por Paulino Montez na sua obra escrita.
Nomeadamente a presença de fortes eixos de simetria marcados por grandes alamedas, assim como a presença
de grandes praças emoldurando importantes edifícios de carácter público, ou ainda, a presença de impasses, de
quarteirões ortogonais, e ainda, de artérias envolventes do espaço abrangido pelo plano.
Expressa pela primeira vez, na sua obra bibliográfica dedicada a Mafra (Montez, 1933), o Arquiteto P. Montez
revela uma preocupação das exigências de circulação, e edificado, que se intensificam com o desenvolvimento do
turismo. Esta preocupação com o turismo, revela-se em outras obras para Portugal, merecendo grande destaque
em todos os planos elaborados para o Concelho de Peniche. De facto, tal como previsto pelo Arquiteto, este
tornou-se um Concelho bastante dependente do turismo, associado nos últimos anos a atividades desportivas
relacionadas com o mar, como o surf, do qual advém grande parte da economia local.
É relativo ao Plano Geral de Urbanização da Península de Peniche, de 1974, que surgem, pela primeira vez, um
novo vocabulário referente à temática do urbanismo. Assim sendo, surge o plano “da rede viária”, “do zonamento”
e “do equipamento”. É relativo a este que, também pela primeira vez, surgem referências aos “valores históricos” e
aos “valores naturais” do aglomerado. A obra literária referente a este, publicada em 1978, corresponde ao último
volume da colecção de “Estudos de Urbanismo em Portugal”.
Da síntese realizada, destaca-se que o Plano Geral de Urbanização, aprovado em 1955, para a Vila de
Peniche, e o Plano Geral de Urbanização para a Povoação da Consolação, aprovado também ele em 1955, são os
que mais influências deixaram no traçado atual dos respetivos aglomerados. O outro plano elaborado o território
correspondente à atual Cidade de Peniche, em 1974, embora se verifique um número elevado de situações
iniciadas, que não foram concluídas, também este influenciou o desenho urbano atual da Cidade.
Em relação ao Plano Geral de Urbanização referente ao Istmo de Peniche, assim como aos outros planos
referentes ao Baleal e a São Bernardino, não se verificam influências assinaláveis no traçado atual dos aglomerados
em questão, contudo, as ligações que o Arquiteto P. Montez defendia com os aglomerados vizinhos, foram, em
parte, realizadas.
Acreditamos que o conjunto de obras do Arquiteto P. Montez analisadas neste trabalho, apresentadas
de forma gráfica e sistematizada, contribuirão certamente para alargar o conhecimento sobre a sua obra, mas
também abir novas áreas de investigação para futuros trabalhos relacionados com a obra do Arquiteto P. Montez.