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Um conjunto de investigadores do Iscte pertencentes ao Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-Iscte) e à Business Research Unit (BRU-Iscte), liderados por Nuno Nunes e Maria do Carmo Botelho, publicaram recentemente na revista científica British Journal of Sociology o artigo "Varieties of Economic Elites? Preliminary Results from the World Elite Database (WED)".
Esta publicação insere-se no projeto internacional “World Elite Database” (WED), estudo que constitui a análise comparativa mais abrangente realizada até à data sobre as elites económicas em 16 países, que em conjunto representam mais de metade do PIB global e de um terço da população mundial. Este trabalho pioneiro abre caminho a novas investigações e ao debate público sobre poder, desigualdade e meritocracia no século XXI.
O projeto internacional WED tem como objetivo conhecer as elites económicas no mundo, considerando diferentes contextos nacionais e tomando por base as suas três formas de poder económico: organizacional, de mercado e regulação. O WED combina três critérios: liderança de grandes empresas (públicas e privadas), indivíduos com grandes fortunas (riqueza) e posições de regulação económica (como ministros das finanças, presidentes de bancos centrais, etc.).
O estudo resulta do trabalho conjunto de mais de 70 investigadores de diversos países, incluindo Portugal. A base de dados WED (World Elite Database) estabelece um novo padrão na investigação sobre elites ao identificar sistematicamente quem detém poder económico – seja pelo controlo de grandes empresas, pela posse de ativos significativos ou pela influência sobre a regulação económica.
O Financial Times sublinha que os resultados desafiam ideias pré-concebidas: embora continuem a ser maioritariamente masculinas e de idade avançada, as elites económicas estão hoje mais escolarizadas, mais internacionalizadas e tendem a reproduzir-se socialmente. A formação académica continua a ser um critério de acesso essencial, mas a sua natureza e prestígio variam entre países.
A investigação revela que, embora existam traços comuns (como a predominância masculina, a elevada qualificação académica e a forte ancoragem nacional), há variações significativas entre países quanto à idade, género, origem geográfica e o perfil educativo das elites. Por exemplo, 45% da elite económica britânica é estrangeira, enquanto a elite chinesa é mais jovem, técnica e com origem rural. As diferenças não se explicam facilmente pelas tipologias tradicionais do capitalismo ou do welfare, sugerindo que as elites económicas constituem configurações nacionais de poder, moldadas por fatores institucionais e históricos próprios.
Relativamente a Portugal, o estudo evidencia uma elite económica relativamente pequena e sub-representada por mulheres. As elites portuguesas apresentam uma forte concentração urbana em Lisboa e demonstram uma elevada qualificação académica, com Mestrado ou Doutoramento, maioritariamente na área de Gestão. A sua composição aponta para uma elite profissionalizada, com reduzida proporção de presença de grandes fortunas e de elites empresariais internacionais, configurando uma estrutura de poder económico mais dependente do contexto institucional nacional do que de dinâmicas globais de capital.
Equipa de investigação do Projeto WED
Nuno Nunes, Maria do Carmo Botelho, Sofia Vale, Pedro Vasconcelos, Jéssica Pereira, Pedro Casanova, Luís Casinhas, João Paulo Henriques, Andreia Egas, Orlando Gomes, Dulce Santana e Jorge Honório.