Title
Entre Artes, em Lisboa: estudo antropológico sobre artistas plásticos africanos numa ex-metrópole colonial
Author
Mota, Maria João
Summary
en
Esta investigação resultou do trabalho de campo feito sobre seis artistas plásticos africanos, que residem ou residiram na região metropolitana de Lisboa e que são originários ou viveram em cinco PALOP.
O objectivo principal foi analisar as práticas artísticas destes criadores como processos de mediação sociocultural. A produção artística proporciona uma via privilegiada de mediação que permite aos criadores transitarem entre diferentes meios socioculturais e, por conseguinte, aumentarem a sua participação institucional. Este tipo de mediação pressupõe uma relação assimétrica entre estratos sociais e um predomínio das relações de mediação de cima para baixo. No contexto português há uma menor frequência das relações de mediação no sentido inverso, excepto nos eventos políticos ligados à ideologia da lusofonia ou a grupos sociais percepcionados como imigrantes. As consequências dessas interacções são; por um lado, há um afastamento dos modelos estéticos tidos como tradicionais pelos artistas africanos que ascendem socialmente e são integrados na arte contemporânea, por outro lado, há a afirmação de africanidade por parte dos intervenientes que procuram a confirmação enquanto mediadores socioculturais.
Lisboa enquanto ex-metrópole colonial continua a centralizar e a manter relações preferenciais com os territórios africanos anteriormente colonizados. Através de espectáculos políticos, em que se incluem as artes plásticas lusófonas, Portugal procura marcar posição num contexto globalizado. A associação de estados-nações em unidades regionais (pan-europeias, pan-africanas, lusófona, francófona, anglófona, etc.) é uma conjuntura que, quando combinada com as trajectórias e a identidade existencial dos criadores, possibilita a manutenção de circuitos artísticos, paralelos ao mercado internacional da arte contemporânea.
This investigation was the result of fieldwork involving six African artists who reside or have resided in the metropolitan area of Lisbon and have origins or lived in five PALOP (African Countries with Portuguese as the Official Language) countries.
The main aim was to analyse their artistic practices as sociocultural mediation processes. Artistic production provides an opportunity for mediation that allows creative artists to circulate between different social contexts and consequently to extend their institutional participation. This type of mediation process presupposes an asymmetrical relationship among different social strata and a prevalence of top-bottom mediation relationships. In the Portuguese context relationships of the reverse type are less frequent, except in political events connected with Lusophone ideology or with groups perceived to be immigrants. The consequences of these interactions are one hand a movement away from the aesthetical models seen as traditional by upwardly mobile African artists involved in contemporary art, and on the other hand an affirmation of African identity by those who seek to confirm themselves as sociocultural mediators.
Lisbon, as a former colonial metropolis, continues to centralise and mantain special relationships with its ex-colonies in Africa. Through political performances, witch include Lusophone plastic arts, Portugal attempts to assert its position in a globalised context. The association of nation states in regional unities (Pan-European; Pan-African; Lusophone, Francophone, Anglophone, etc.) is a situation which, when combined with the trajectories and existential identity of the artists, makes it possible to maintain artistic circles parallel to the international contemporary art market.