O estudo da governação empresarial e dos conselhos de administração, fruto dos escândalos envolvendo falências fraudulentas e abusos de poder, ganhou uma inegável relevância. Incorporando o modelo da primazia dos accionistas, o movimento de reforma da governação empresarial incentivado, entre outros, pelo activismo accionista, tenta uniformizar práticas e mecanismos de governação almejando solucionar os fracassos acima mencionados. Regulamentos e políticas sendo, no entanto, condições necessárias não são condições suficientes para promover uma governação eficaz. A academia reconhece que estas reformas contribuíram para alargar o fosso entre o que é esperado dos conselhos de administração e o seu real desempenho, ao invés de o tornar mais eficaz. Antes de regulamentar é necessário descrever e para descrever é necessário observar. Até hoje, a investigação científica não provou, empiricamente, que as reformas conduzem a conselhos de administração mais eficazes e, em consequência, a melhorias no desempenho das empresas. Enquanto actores sociais todos temos, incluindo os administradores, visões enviesadas, pelo que é necessário analisar a percepção que os membros dos conselhos de administração têm do seu papel. Só assim se pode compreender, de facto, o papel e o contributo dos administradores. A diferença percebida entre as expectativas relativas à missão dos conselhos de administração e o valor que estes acrescentam às organizações foi insuficientemente explorada nos estudos realizados até ao momento actual. Neste sentido este estudo visa compreender o papel e o contributo dos conselhos de administração com base na percepção dos seus membros. Recorrendo a um questionário, foi pedido aos administradores das empresas portuguesas cotadas na bolsa de valores que classificassem, com base na sua percepção, os desempenhos do presidente do conselho de administração, dos administradores, dos administradores independentes e do CEO. Do estudo resultam três conclusões principais: primeiro, existem muitas inconsistências quanto à fronteira entre os papéis desempenhados pelo presidente do conselho de administração e pelo CEO particularmente no que se refere a questões de foro estratégico; segundo, que a relação entre presidente do conselho de administração e do CEO provoca tensões que se reflectem diferentemente nos administradores executivos e não-executivos e terceiro que existe uma indefinição quanto ao papel dos conselhos de administração em relação ao seu envolvimento estratégico na evolução da empresa. Este estudo sobre os administradores e as suas interacções no seio dos conselhos de administração num contexto não anglo-americano contribui para abrir a “caixa negra” da dinâmica deste orgão e ser uma ‘pedrada no charco’ na abordagem desta temática. Em paralelo com o contributo para o conhecimento da governação empresarial, numa óptica comportamental, esta investigação procura promover a reflexão sobre a relação entre as lideranças das empresas, enquanto influenciadoras da interacção da empresa com a sociedade envolvente.

Scholars and practitioners widely accept that spectacular corporate failures and the misuse of managerial power significantly contributed to the rising prominence of the subject of corporate governance and the boards of directors. Triggered by shareholder activism and aiming to solve the governance failures, corporate governance reformists, embodying the shareholder primacy model, have attempted to unify corporate governance mechanisms and practices. Formal regulations and policies are necessary, but they are not enough to fully understand effective governance. Scholars recognise that reforms are contributing to increasing the gap between what firms expect boards of directors to do and what they are actually doing, instead of bridging the difference between board role expectations and actual board role reality and, consequently, affecting board performance. Before normalizing the boards of directors, it is needed to describe and before describing it is needed to observe them in action. So far, academicians have not been able to empirically confirm that boardroom reforms will lead to more effective boards and ultimately positively affect corporate performance. As social actors we all have biased views, as do boardroom members, thus it is necessary to analyse directors’ perceptions about their role in order to understand if they are aligned and acting accordingly. Ultimately, the research goal is to understand what is, in fact, directors’ role and contribution. Previous research has not thoroughly explored the gap between what companies expect from the boards’ tasks (boards’ role) and their contribution (what the boards actually do). Thus, this survey examines the role and contribution of boards through their own perception, bridging the gap between board role expectations and actual board role reality. In so doing the study sheds light on the board’s real contribution and, ultimately its contribution to board effectiveness. Through a survey-based method, the author requested that board members from Portuguese listed firms rate the Chairman, the Board, the Senior Independent Director and the CEO performance, through their own perceptions. The survey draws three key conclusions: first, there are, generally, many inconsistencies around the board role boundaries between the chairman and the CEO and, particularly, around their strategic involvement. Second, tensions arise from the way this relationship evolves affecting both teams (the executive and non-executive directors) and third, there is an absence of a clear picture of the board’s role regarding its strategic involvement. This study, whilst exploring and understanding directors and their interactions inside the boardroom in a non-Anglo-American context, contributes to opening the ‘black-box’ of board dynamics, thus ‘dismantling the fortress’ in boards of directors studies. Additionally, whilst entailing ‘what is’ knowledge about the role and contribution of the corporate apex decision-making group, the study leads to the overarching and painful (but absolutely needed) reflection about the pivotal boards’ role as shapers of the ever changing business society relationship.