Título
Selecção natural: Concursos de Arquitectura e o caso de Sagres de 1954
Autor
Mónica, Filipe Nassauer
Resumo
pt
O debate teórico sobre os concursos de arquitectura em Portugal tem seguido sobretudo duas
abordagens, geralmente dissociadas. Por um lado, a que se centra nas questões operativas do concurso,
centrada no seu processo, onde se inscreve a maioria do pensamento corporativo dos arquitectos. Por
outro, a que se foca nos projectos e obras que decorrem dos procedimentos, onde o concurso surge
como complemento indirecto da historiografia e teoria disciplinares. Este trabalho coloca-se num
espaço de confluência entre estas abordagens. Tem o procedimento do concurso como protagonista,
olhando para os seus instrumentos, enquanto o aborda como dispositivo de construção e sedimentação
cultural.
A partir dos resultados da exploração do arquivo do Serviço de Concursos da Secção Regional Sul da
Ordem dos Arquitectos, repositório de décadas de pensamento e de trabalho de assessoria à realização
de concursos, parte-se para uma aprofundada reflexão teórica que, sem nunca abandonar o foco no
concurso, se afasta do estrito campo disciplinar da arquitectura e dos seus comuns suportes teóricos. A
partir do trabalho de Hannah Arendt enquadra-se o papel do concurso como instituição instrumental da
renovação do mundo, para depois se percorrer um amplo itinerário por disciplinas como a sociologia e
a teoria evolutiva, que nos ajudam a enquadrar questões centrais aos concursos, como o mérito e a
selecção. As conclusões, às quais se chega com o auxílio de um caso de estudo fundamental – o
concurso de Sagres de 1954 –, questionam a validade do pensamento hoje dominante, alicerçado em
mecanismos como a meritocracia e a Selecção Natural.
en
The theoretical debate on architectural competitions in Portugal has predominantly followed two
distinct and often dissociated perspectives. On one hand, there is a focus on the operational aspects of
the competition, centered on its process, which aligns with the corporate thinking of architects. On the
other hand, the focus shifts to the projects and works that emerge from these procedures, where the
competition functions as an indirect complement to disciplinary historiography and theory. This
research bridges these two approaches, positioning the competition process itself as a central element
while exploring its role as a tool for cultural construction and sedimentation.
The study draws on the exploration of the archive of the Competitions Service of the Southern
Regional Section of the Portuguese Architects’ Association – a repository encompassing decades of
thought and practice related to competition organization. This archive provides the basis for an indepth
theoretical reflection that, while maintaining a focus on competitions, extends beyond
architecture’s conventional disciplinary theoretical boundaries. Grounded in the work of Hannah
Arendt, the research examines the architectural competition as an instrumental institution for the
renewal of the world. It then engages with other disciplines, such as sociology and evolutionary
theory, to frame key issues in competitions, including merit and selection. A foundational case study of
the 1954 Sagres competition supports the conclusions, challenging contemporary perspectives on
competitions, which are often predicated on mechanisms like meritocracy and natural selection.