Objetivos: Este estudo teve como objetivo analisar as associações entre a perturbação de stress pós-traumático (PSPT) e problemas com os pares, e examinar o efeito moderador do sexo naquela associação em crianças e adolescentes expostos a mau trato. Métodos: Foi realizado um inquérito em Portugal no âmbito de um estudo mais amplo sobre os efeitos das adversidades precoces no desenvolvimento cognitivo e socio-emocional da criança. A amostra incluiu 121 crianças e adolescentes, entre 7 e 17 anos, expostos a mau trato. Os cuidadores das crianças e adolescentes preencheram um conjunto de questionários acerca dos mesmos, designadamente acerca da exposição a experiências adversas (violência doméstica, abuso emocional, negligência, abuso físico e abuso sexual), presença de sintomas de PSPT e problemas com os pares. Resultados: Sintomas de PSPT revelaram estar associados a mais problemas com os pares. O sexo da criança emergiu como um moderador da associação entre os sintomas de intrusão e problemas com os pares. Em particular, aquela associação revelou ser estatisticamente significativa, mas apenas para os rapazes. Conclusões: O presente estudo veio alargar os resultados da investigação existente sobre a temática, dominada por estudos norte-americanos, para o contexto português. Os resultados demonstraram que sintomas de PSPT em crianças e adolescentes expostos a mau-trato têm um impacto na qualidade da relação com os pares, em particular nos rapazes. Implicações: Os achados deste estudo destacam a necessidade de avaliar o impacto de fatores biológicos, culturais e de género nos sintomas de trauma e no desenvolvimento social e qualidade das relações em crianças e adolescentes.

Objectives: This study aimed to analyze the associations between posttraumatic stress disorder (PTSD) and peer problems, and to examine the moderating effect of sex on that association in maltreated children and adolescents. Methods: A survey was conducted in Portugal as part of a wider study about the effects of early adversity on child cognitive and socioemotional development. The sample included 121 maltreated children and adolescents, aged 7 to 17 years. The caregivers reported on child maltreatment (domestic violence, emotional abuse, neglect, physical abuse, and sexual abuse), PTSD symptoms, and peer problems. Results: Maltreatment-derived PTSD symptoms predicted more peer problems. Child sex did not influence the relationship between total PTSD scores and peer problems, although it did moderate the effect of PTSD intrusion symptoms on peer problems, with only boys showing a statistically significant association between the two variables. Conclusions: This study extended North American research findings with a Portuguese community sample. The results demonstrated that maltreatment-derived trauma symptoms during childhood have an impact on social problems with peers. Implications: The findings highlight the need to assess the impact of biological, cultural, and gender normative factors on child and adolescent trauma symptoms and on social development and on the quality of relationships in children and adolescents exposed to maltreatment.