Teses e dissertações

Doutoramento
Antropologia
Título

"E o que é que é preciso para ser voluntário?": voluntariado como modelo de governança em contextos de crise: Portugal 2012-2018

Autor
Oliveira, Fernanda Maria Rivas de
Resumo
pt
As organizações de solidariedade social proliferaram em Portugal no período da austeridade, mobilizadas por um impulso ético coletivo que visava suprir necessidades de emergência do período da "crise". Esta tese analisa as representações/necessidades inscritas no voluntariado alimentar e de proximidade, inserido num contexto politico paradigmático de ação social e alicerçado na transferência de parte da responsabilidade pública para as organizações privadas. O trabalho de campo foi realizado em quatro organizações de voluntariado em Évora, Lisboa e Setúbal, que ofereciam recursos materiais doados na comunidade - bens básicos - aos beneficiários e procuravam suprir necessidades imateriais (cuidado e companhia). A atividade voluntária cruza domínios privados, casa e família, institucionalizando uma parceria de apoio social partilhada com o Estado, que corporiza uma gestão "combinada" de "crise". Esta interseção é fundamental para a reprodução da pessoa e da família e evita o colapso das comunidades nas quais as organizações atuam. O paradigma assenta na disseminação de uma retórica pública de empoderamento dos agentes privados, pessoas e instituições, uma ética "moralizadora" que instiga os cidadãos para a ação social. Porém, os beneficiários das organizações de solidariedade revelam sentidos de precarização e de perdas simbólicas, o que rompe com as suas noções de bem estar social e com o princípio keynesiano de confiança, pilar basilar do Estado Providente. O modelo de governança paritária deverá se alvo de revisão dado que interfere nas economias reais, sobretudo em contextos de crise onde fazer a vida depende, em grande medida, da providência social.
en
In Portugal, voluntary social organisations expanded during austerity and were mobilised by a collective ethic impulse which aimed to solve emergency needs at the time of "crisis". This thesis examines representations/needs inscribed in food and proximity volunteering, which is inserted in a paradigmatic political social action framework grounded in the transfer of part of public liabilities. Fieldwork was made in four volunteering organisations localised in Évora, Lisboa e Setúbal which offered material resources donated by the community - basic goods - to the beneficiaries and tried to solve intangible needs (care and company). Voluntary activity intersects private domains, household and family, institutionalising social assistance partnerships with the State, which embodies a "shared" management of "crisis". This junction is crucial to family and individual reproduction and prevents the collapse of the communities where organisations operate. This paradigm is settled in a public rhetoric of empowerment of private agents and institutions, a "moralising" ethic which stimulates citizens to social action. However, solidarity organisations’ recipients reveal precarisation senses and symbolic loses, which breaks their well-being notions and keynesian principle of trust, which is a fundamental pilar of Welfare State. This joint governance model has to be reviewed since it intervenes whit real economies of society, specially in crisis situations where getting by depends on social provision to a large extent.

Data

05-jul-2021

Palavras-chave

Voluntariado
Volunteering
Empowerment
Shame
Vergonha
Dádiva
Gift
Empoderamento
Cidadania ética
Ethic citizenship

Acesso

Acesso livre

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