A opção contemporânea por um parto fora do hospital confronta diferentes perceções de risco, questiona dinâmicas organizacionais estabelecidas e desafia o poder e a pericialidade médica. Observando o contexto português, esta pesquisa centra-se no parto em casa enquanto fenómeno social, onde diferentes atores profissionais definem os seus campos de saber e de poder, maioritariamente sem uma organização formal ou uma estrutura institucional. Sendo um objeto difuso, elegeu-se uma etnografia multissituada, de forma a compreender as conexões entre o formal e o informal, entre o público e o privado, o regular e o irregulável. Os quatro ensaios que compõem esta tese propõem uma perspetiva sociológica original e integrada sobre o parto em casa. O primeiro ensaio apresenta uma análise socio-histórica da figura extinta da parteira comunitária, o que serve de base ao segundo ensaio, onde é feita uma análise da atual profissão de parteira e se discute a circulação contemporânea de saberes e poderes entre profissionais do parto domiciliário. No terceiro ensaio, é discutida a forma como o género é concebido e posto em prática no parto em casa e em contextos a ele associados. E o quarto ensaio apresenta uma análise crítica da organização do parto em casa contemporâneo em Portugal, propondo um conjunto de recomendações para a melhoria dos cuidados de saúde materna. Além da sua relevância académica e sociológica, é esperado que esta pesquisa possa ter um impacto social mais abrangente, informando a definição de políticas de saúde materna que sejam sensíveis à realidade pouco visível, mas relevante do parto em casa.

The contemporary option of an out-of-hospital birth confronts different risk perceptions, questions established organisational dynamics, and challenges medical power and expertise. Looking at the Portuguese context, this research is thus focused on home birth as a social phenomenon, where different professional actors define their own fields of knowledge and power, mostly without a formal organisation or an institutional structure. The diffuse distribution of home birth called for the use of a multi-sited ethnography, in order to understand the connections between the formal and the informal, the public and the private, the regulated and the unregulatable. The four essays that constitute this thesis propose an original and integrative sociological perspective on home birth. The first essay offers a sociohistorical analysis of the extinct figure of the community midwife. This sets the stage for the analysis of midwifery today, in the second essay, which looks at the contemporary circulation of knowledge and power among home birth professionals. In the third essay, "natural" childbirth initiatives and home births, more broadly, are analysed for its particular features regarding how gender is conceived and enacted. And the four essay presents a critical analysis of the organisation of contemporary home births in Portugal, proposing a set of recommendations for improving maternity care. Beyond the academic and sociological relevance of this research, it is expected that it can have a wider social impact, by informing the definition of maternal health policies that are sensitive to the rather invisible but relevant reality of home birth.