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Investigação • 03 nov 2023
Um terço dos jovens desempregados tem no máximo o 9.º ano de escolaridade

“Esta é a conclusão mais preocupante do retrato que fizemos: o baixo nível de qualificações de um grande número de desempregados jovens para os quais são necessárias políticas mais direcionadas”, refere Paulo Marques, professor, investigador e coordenador do Observatório do Emprego Jovem (OEJ). Este estudo do Iscte para o IEFP abrange o período temporal 2019-2022, “mostrando a persistência do fenómeno, que já era muito visível antes da pandemia da Covid-19 e que se manteve depois disso”.

Em 2022, dos cerca de 100 mil jovens desempregados em Portugal, 29,6% conclui, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (9.º ano). Apesar desta muita baixa qualificação de quase um terço dos jovens portugueses à procura de emprego, a grande maioria destes não estava a estudar. Na verdade, 23,7% do total dos desempregados não frequentava o sistema de ensino e tinha concluído, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico. Estes são dados do Relatório “Quem são os jovens desempregados?”, realizado pelo Observatório do Emprego Jovem (OEJ), uma unidade de investigação do Dinâmia’CET–Iscte, para o Instituto de Emprego e Formação Profissional – IEFP.

Para além da quantidade de jovens pouco qualificados, o estudo regista também que na amostra estudada – indivíduos entre os 15 e os 29 anos – existe uma percentagem elevada de jovens desempregados que concluiu, no máximo, o ensino secundário nas vias gerais e que não progrediu estudos. Na verdade, 13,9% dos jovens desempregados completou este tipo de ensino e não se encontra a estudar. Há também uma presença significativa de jovens licenciados, mas nesse caso as áreas de formação desempenham um papel muito relevante para se compreender o fenómeno.

O lançamento público do relatório “Quem São os Jovens Desempregados?” por parte do IEFP teve lugar no dia 2 de novembro, com a presença de Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, Domingos Lopes, Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, Glória Ferreira, vogal do Conselho Diretivo do IEFP, João Leão, vice-reitor do Iscte, Maria do Carmo Botelho e Paulo Marques do Iscte.

Apostar em formação em contexto de trabalho, com remuneração
A principal recomendação do Observatório do Emprego Jovem para o elevado número de jovens com o 9.º ano, ou menos, é a valorização do ensino profissional. “A entrada no mercado de trabalho dos jovens que frequentaram as vias profissionalizantes é claramente facilitada, especialmente se os empregadores estiverem envolvidos no processo de formação”, afirma Paulo Marques. É necessário, no entanto, resolver o problema atual dos cerca de 23 mil e 500 jovens desempregados que têm no máximo o 9.º ano de escolaridade e que já saíram do sistema de ensino.

Para o coordenador do OEJ, “é fundamental criar modelos de formação em contexto de trabalho, com remuneração, desenhados especificamente para acorrer à situação destes jovens”. Paulo Marques entende que tal só será possível com o empenhamento dos empregadores: “Portugal neste capítulo pode beneficiar com a experiência de Espanha nos ‘Contratos de Aprendizagem Profissional’, realizados com associações empresariais de diferentes setores”, afirma. Se esse modelo avançar, caberá ao IEFP acompanhar a formação ministrada e monitorizar a sua qualidade.

O OEJ defende nas suas recomendações que para muitos dos jovens que abandonaram precocemente o sistema de ensino, sobretudo os mais novos, sejam criadas oportunidades de ensino profissional. “Faz todo o sentido que o Estado atue nesse domínio, até porque há uma visível falta de mão-de-obra em vários setores de atividade”, afirma Paulo Marques. “O que não pode ser é uma formação igual à que é dada no ensino secundário geral – tem de ser uma formação muito mais ligada às empresas, com uma ligação mais direta ao mercado de trabalho”.

Estas novas modalidades de formação deverão ter em conta as realidades regionais, não só para dirigirem formandos para áreas específicas onde faltam trabalhadores, mas, também, porque a expressão do fenómeno do desemprego jovem não é igual em todo o país. Tendo em consideração os dados dos Censos 2021, nomeadamente no que se refere à distribuição dos jovens por região de residência, os desempregados jovens estão ligeiramente sobrerepresentados no Alentejo, Algarve e Madeira.

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